Sinto que algo me persegue, porém tenho medo de confrontar seja lá o que for. Continuo andando esperando que vá embora juntamente com o meu medo, mas isso não é algo de se livrar facilmente. Caminho esperando ver uma alma viva sequer, um cachorro que seja! Para acabar com essa aflição.
No entanto, nada. A sombra continua ali, me espreitando e me seguindo aos meus calcanhares. Olho as vezes para trás e sinto todo o horror e malícia em toda sua negritude. Meu coração se aperta como o de um animal em um abatedouro, porém, diferente de um cordeiro que se silencia à hora da morte, meu coração me denuncia no beco úmido. As batidas constantes e desenfreadas de meu coração delator.
Nítidos como faróis num morro escuro, os olhos da criatura se puseram a observar-me. Tão obstante se abriram, os meus quase saíram de suas orbitas ao se encontrarem por uma fração de segundo com os dele.
Por Deus! Quanta agonia e aflição em uma noite só!
A escuridão me assola e me pressiona. Minhas pernas já não suportam tanto medo e tremem feito galhos numa tempestade. A lua cintilante no céu é a única testemunha ocular de meu medo e terror.
As luzes da rua já se ascendem no final do beco. Sinto que não chegarei a tempo de ver as luzes da cidade mais uma vez. Aperto o passo num último esforço por escapar das garras da sombra que se projetam nos tijolos úmidos. Quando chego enfim ao fim do túnel das ilusões e insanidades, olho para trás; olho para o corredor da morte e vejo nada mais do que a imaginação de um homem bêbado.
Escrito por: Lucas José